As notícias que pipocaram pelo mundo nesta semana, sem repercussão no Brasil dão conta do primeiro ataque contra o cemitério judaico de Lisboa. Segundo uma longa conversa que tive com o escritor Richard Zimler, em sua passagem pelo Rio de Janeiro, sobre a comunidade judaica em Portugal, ele disse que no Porto, onde mora há mais de 10 anos e leciona jornalismo, há cerca de 30 judeus e que em Lisboa há cerca de 400. É até surpreendente para uma nação que torturou converteu e expulsou todos os seus judeus num processo iniciado no século 16 depois de 1.000 anos de convivência.
Aproveitamos a presença de Zimler nesta matéria para informar que seu próximo livro a ser lançado no Brasil será "A Sétima Porta" que aborda a guerra dos nazistas contra os deficientes físicos. E que no seu grande sucesso anterior, "O Último Cabalista de Lisboa", um dos assuntos tratados é o pogrom de 1506 onde judeus foram retirados de suas casas e mortos na frente de igrejas.
O ataque aconteceu no dia 25 de setembro onde foram pichadas suásticas em 20 túmulos do cemitério judaico de Lisboa. Nnomes foram arrancados de algumas lápides. Os dois nazis, um de 16 e outro de 24, o "Lobo Nazi" - chefe da quadirlha -, pularam o muro do cemitério às 22h50 e acabaram sendo presos pela polícia, alertada por vizinhos que ouviram ruídos no cemitério. Em seu poder foram encontradas "fotografias de pessoas ligadas à comunidade judaica e alvos judaicos marcados." Nos chips de seus celulares, foram rastreadas ligações para números de vários movimentos nazistas e de supremacia branca na Europa.
O Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME – de Portugal) condenou "de forma clara" os atos de vandalismo no Cemitério Judaico de Lisboa. Além de "condenar de forma clara este tipo de actos", o ACIME também os desvalorizou, sublinhando que "são casos pontuais e não reflectem o sentimento geral da sociedade portuguesa". O ACIME congratulou-se ainda com "a rapidez de actuação das autoridades".
O parágrafo anterior foi publicado pela agência LUSA, a agência oficial portuguesa. Note que houve uma clara intenção de caracterizar este ataque como "vandalismo" e não como anti-semitismo. A LUSA e o ACIME ainda definem os casos como pontuais e esquecem-se ou nem sabem dos diversos relatórios que apontam para o aumento do anti-semitismo na Europa nem notam o surgimento, cada vez maior de suásticas pichadas em Portugal.
Numa declaração exclusiva para o jornal Expresso, o presidente da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL), José Oulman Carp, disse que "a comunidade judaica está chocada com o que aconteceu e com o fato de situações destas terem chegado a Portugal".
Dos dois homens que atacaram o cemitério, um já estava respondendo um processo junto com outro grupo de skinheads por "discriminação racial e ofensas à integridade física". O outro, que havia sido investigado antes da prisão do grupo, não tinha sido identificado positivamente como skinhead.
Alm dessa prisão e processo onde os skinheads foram afiançados e soltos umas semanas atrás, há vários movimentos em Portugal, criados pelo governo, para cadastramento das antigas propriedades de judeus, tombamento das que ainda não foram tombadas, reformas de edificações antigas e até mesmo a criação do Dia do Holocausto na desconhecida cidade de Ribeirão.
Jornalistas e políticos dão apoio aos nazistas portugueses
Tal e qual bolhas de gás de uma matéria putrefada o nazismo em Portugal vai chegando à superfície. Poucas semanas atrás mostramos no Informe FIERJ Digital um jornal dos Açores, território de Portugal, defendendo a publicação de uma nova edição dos Protocolos dos Sábios de Sião. Portanto, os skinheads e nazistas lusitanos têm uma acolhida e gente que os defende na mídia.
Neste caso do cemitério de Lisboa, acabamos chegando a Humberto Nuno de Oliveira (alcunha HNO), presidente da Federação Européia de Karaté Gojo-Ryu, e líder do PARTIDO NACIONAL RENOVADOR no distrito de Santarem (PNR).
Em seu blog, coalhado de links para sites de grupos nazistas e revisionistas do Holocausto europeus, que ele intitulada ser o local onde pode ser encontrado diariamente na página digital do PNR português, esse Humberto Nuno de Oliveira escreveu o seguinte (negritos nossos):
A PROFANAÇÃO
Dois jovens, seguramente pouco atentos e cuidadosos, foram apanhados a profanar o cemitério israelita de Lisboa. Muito já foi escrito sobre o assunto e agitados outros tantos espantalhos. A verdade é que importa dizer que, para além da manifesta falta de tacto dos dois (um deles já indiciado noutro processo), importa sublinhar a absoluta falta de interesse do acto. Qual o objectivo "político" de invadir aquele antro para profanar as campas? Se a motivação é anti-judaica (poderá ser apenas um acto deslocado de afirmação de convicções estéticas), importará lembrar que os judeus que devem preocupar, quem assim pensa, são os vivos e não os que estão no "jardim das tabuletas" (será que esta expressão se adequará a tais cemitérios?). A verdade é que a Esther, o Joshua e outros integradíssimos "portugueses" se indignaram. A verdade é que ninguém se lembrou de apontar que até na morte os judeus são xenófobos - tal como o são no seu quotidiano - ao ponto de necessitarem de um cemitério só para eleitos, seguramente que mistura de vermes com os que se alimentam dos "goyim" muito os prejudicaria... Enfim, misérias de um povo "superior"...
No blog do próprio PNR, faz centenas de comentários, entre eles o que reproduzo abaixo no lançamento do filme "Munique", de Steven Spielberg, em Portugal. O racismo, o anti-semitismo, o ódio aos judeus, aos homossexuais e aos imigrantes e os que os acolhem em Portugal é plataforma púlbica e aberta do PNR, onde os nazistas portugueses tem uma casinha com certeza.
ESTREIA
Estreia hoje, com o "susuru" costumeiro das ocasiões, o filme "Munique" de um conhecido realizador, do qual (por motivos que bem sei...) não sou cliente. Aos mais novos e a todos aqueles que vão dar dinheiro para a "coisa" que vejam pelo menos, a lição fundamental do filme, como actua o Estado mais terrorista do mundo no combate ao terrorismo... E mais não escrevo que com as leis que para aí andam a aprovar... ainda me prendem...
Enquanto lá nos Açores, o jornalista português dizia que os judeus em Portugal eram bem integrados à sociedade e não apresentavam riscos, mas que no Brasil e Argentina a situação era perigosa, esse político português vê judeus e Israel como uma real ameaça ao povo português.
1.400 anos de presença judaica
A presença judaica em Portugal é comprovada através das lápides na "freguesia de Lagos da Beira" desde o século 6 (é seis mesmo e não 16...) já vítimas de deportação de seus lares no Oriente Médio pelo imperador romano Adriano. O site da Comunidade Judaica de Lisboa é http://www.cilisboa.org/ onde se pode ver a nota oficial sobre o incidente e dar uma olhada em como resiste essa comunidade milenar. Neste site também há um clipping completo da repercussão do caso nos jornais portugueses. Há uns links errados lá, mas basta copiar e colar em outra janela que eles abrem.
Esta matéria do Correio da Manhã conta a história da prisão inicial e atual do grupo de skinheads e é de leitura importante para quem quiser entender melhor o caso.
Como sempre, procuro abordar todos os aspectos dos casos e colocamos no YouTube a matéria sobre o assunto que foi ao ar pela TV SIC, onde se pode ver o cemitério. A notícia foi dada rápida, declarando 12 túmulos vandalizados, quando depois se constatou terem sido 20. Os túmulos foram limpos antes da chegada da reportagem e nenhuma foto do vandalismo foi liberada até agora.
http://br.youtube.com/watch?v=UWOa2xn1aBI
*José Roitberg é jornalista de diretor de Comunidade na TV
sábado, 6 de outubro de 2007
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