terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

21 de fevereiro – Tomada de Monte Castelo

21 de fevereiro – Tomada de Monte Castelo
O passado não pode ser esquecido


Israel Blajberg (*)

Ao aproximar-se o 21 de fevereiro de 1945, quando os bravos da FEB foram vitoriosos no quarto e último assalto a Monte Castelo, nossos pensamentos voltam-se para aqueles heróis.

A Alemanha Nazista foi derrotada, entretanto mesmo após tanto sofrimento, ainda hoje de 25% a 40% enxergam aspectos positivos na ditadura de Hitler e de 20% a 40% são anti-semitas, conforme concluiu estudo de uma universidade alemã.

O dia 30 de janeiro de 2008 marcou os 75 anos da subida de Hitler ao poder em 1933, sendo que a partir de 1941 o Brasil foi covardemente agredido pela Alemanha Nazista: 38 navios mercantes torpedeados, 549 tripulantes e 502 passageiros afogados, 1.051 preciosas vidas brasileiras.

O Monte Castelo havia sido atacado 3 vezes por tropas brasileiras e americanas, em novembro e dezembro de 1944.

A infantaria avançava penosamente pela neve e lama, sob um fogo pesado. Clássica situação dos manuais: o inimigo tem a vantagem da altura. Mesmo assim alguns pelotões conseguiram atingir o cume do monte, tendo de se retirar após sofrer pesadas baixas. Um dos batalhões teve 15% de baixas entre mortos, feridos e desaparecidos.

Os tenentes Apollo Miguel Rezk e Moises Chahon, que comandavam pelotões na cota 958, e o tenente Gervasio Deschamps, que subira com parte de seu pelotão continuaram a resistir - embora a ordem fosse para recuar.

A vitória final veio ao cair da tarde do dia 21, com apoio do 1°. Grupo de Caça, o Senta-a-Pua, e da Artilharia Divisionária.

O 1°. RI - Regimento Sampaio finalmente conquistou as casamatas da cota 977 do Monte Castelo, resistindo à fadiga, a estafa e ao frio, e ainda tendo de cavar trincheiras para a eventualidade do contra-ataque alemão que jamais chegou.

Por bravura em ação, diversos pracinhas foram condecorados com as mais valiosas medalhas brasileiras e americanas, entre os quais o Herói da Reserva, Ten Apollo Miguel Rezk, Cmt Pel da 6ª. Cia, que recebeu a Silver Star Medal, junto com Chahon e Gervasio, e o Capitão Valdir Moreira Sampaio, Cmt da 5ª. Cia do 2°. Btl, que recebeu a Bronze Star Medal, todos do Regimento Sampaio.

O Brasil se orgulhou dos seus pracinhas, que enfrentaram os nazistas na neve das escarpas sob fogo de metralhadoras e morteiros do alto, levando apenas o armamento, a própria ração, e a coragem exemplar.

Neste 2008 que começa sob ameaças do terror, o 21 de Fevereiro ganha significado ainda mais relevante. Como farol na escuridão lembra 63 anos depois que o mesmo perigo ainda ronda ameaçador.

Quando o terrorismo internacional emula novamente os pérfidos postulados nazistas, cabe perguntar se os sucessores de Roosevelt, Churchill e Eisenhower pretendem novamente esperar até que seja tarde demais ?

E se o mesmo silêncio do Papa de ontem será mantido pelo de hoje?

E se a negativa de Londres e Washington de bombardear os campos de morte ou pelo menos os trilhos que a eles levavam será replicada diante da ameaça agora nuclear.

Mais um pouco e teremos os 70 anos da Noite dos Cristais de novembro de 1938, e da invasão da Polônia em setembro de 1939, sem que o Mundo desperte e se levante contra os que, sem pudor algum, assumem os mesmos contornos cruéis.

Elie Wiesel, Prêmio Nobel da Paz de 1986 e sobrevivente de Auschwitz, em sua obra interpreta o canto de uma geração perdida:

"... desde o fim do pesadelo rebusco o passado ... quanto mais longe vou, menos compreendo ... talvez não haja nada a compreender..."

A Humanidade segue na corda bamba, sem conseguir entender que o compromisso de Wiesel, originado no sofrimento do seu povo, se amplia para abarcar todos os povos e raças oprimidas, e não se prende apenas ao passado, mas, o que é pior, ao futuro.

Passadas mais de seis décadas, o significado da batalha de Monte Castelo está cada vez mais atual.

Mas ainda há tempo. Novamente, é como se a cada dia estejamos lutando contra os mesmos inimigos, lançando outra vez as três primeiras investidas contra o mal encastelado no alto da crista, tentativas plenas de sacrifícios e perdas, mas com a certeza de que a vitória sofrida um dia chegará.

Por isso é tão importante que a cada ano sejam lembrados os combatentes de Monte Castelo, que com destemor nos ensinaram preciosa lição, deixando-nos seu legado para defender.

(*) Israel Blajberg - Diretor de Cidadania da FIERJ

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