BERLIM - A Alemanha saldou o pagamento de indenizações aos antigos escravos do nazismo, com o envio de cerca de 4,4 bilhões a 1,66 milhão de sobreviventes, e encerrou a última dívida do total de 67 bilhões que o país pagou desde o pós-guerra pelos crimes do Terceiro Reich.
- O dinheiro não pode compensar a dor infligida, mas é um reconhecimento moral da responsabilidade sobre milhões de vítimas, disse nesta terça-feira o presidente alemão, Horst Köhler, em um ato no Palácio de Bellevue.
Os pagamentos são 'apenas uma indenização simbólica' perante o sofrimento de 'milhões de pessoas que não sobreviveram ao martírio e aos outros que o fizeram, mas com conseqüências físicas ou psíquicas que permanecem até hoje', reconheceu a chanceler Angela Merkel.
Köhler e Merkel encerram assim a iniciativa criada em 1998 pelo então chanceler GerhardSchröder para saldar a dívida tardia com os antigos trabalhadores forçados, entregues pelo regime nazista a indústrias, bancos 'e até hospitais e instituições sociais', lembrou o presidente.
- Muitos alemães tiraram proveito voluntária ou involuntariamente do trabalho desses escravos, disse Köhler. O presidente ressaltou que esta não foi uma prática 'isolada' de alguns consórcios ou empresas, mas de todo o complexo industrial alemão.
Calcula-se que o Terceiro Reich, sob a liderança de Adolf Hitler, empregou cerca de dez milhões de trabalhadores forçados, que foram entregues pelo regime nazista como mão-de-obra preferencialmente à indústria armamentista, mas também para outros tipos de instituições, incluindo a igreja.
Deles, foram localizados e identificados 1,665 milhão de sobreviventes, a maioria em territórios da antiga União Soviética.
Os grupos de vítimas de outras partes do mundo tinham sido indenizados por meio de diferentes pacotes negociados durante o pós-guerra e em anos posteriores com as potências aliadas, Israel e a maioria dos países europeus, incluindo a Polônia.
No entanto, a grande maioria de sobreviventes do Leste Europeu ficou de fora, até que surgiu esta iniciativa, canalizada pela Fundação Lembrança, Responsabilidade e Futuro, criada em 1999, explicou Merkel.
- A indústria demorou a levar o problema a sério, admitiu Manfred Gentz, o representante da indústria na fundação.
A partir daí, foi aberto um processo de 'análise científica' do passado e dos vínculos com o nazismo, assumido 'pela maioria dos consórcios', acrescentou Gentz.
A Fundação Lembrança, Responsabilidade e Futuro iniciou um longo processo de negociações com o ex-ministro da Economia e presidente de honra do Partido Liberal Otto Graf Lambsdorff, marcado por sucessivas controvérsias e novos obstáculos.
Com a iniciativa já em andamento, na qual inicialmente estiveram englobados doze grandes consórcios industriais, surgiu o temor entre as empresas envolvidas de que tal reconhecimento de culpa gerasse uma onda de demandas coletivas procedentes dos Estados Unidos.
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