terça-feira, 10 de abril de 2007

47 anos do Monumento dos Pracinhas

Culto Ecumênico

Pronunciamento da FIERJ em nome da Comunidade Judaica Fluminense

Na semana que corre, os judeus no Brasil e no mundo inteiro iniciam a celebração do Pessach, a Páscoa Judaica, iniciada segunda-feira de noite com um jantar solene familiar, uma tradicional cerimônia da religião de Moisés, a Festa da Libertação que celebra o Êxodo do Egito.

Por isso mesmo, o Eminente Rabino Eliezer Stauber, que no ano passado ocupou este púlpito, homenageando nossos bravos pracinhas, hoje não comparece guardando o feriado religioso, vindo portanto a FIERJ neste ato trazer uma mensagem da Comunidade Judaica Fluminense, enaltecendo a luta dos combatentes brasileiros.

Agora mesmo nesta manhã, enquanto aqui estamos reunidos, em todas as sinagogas ecoa a milenar Benção Sacerdotal do Templo de Salomão, seguindo-se as orações em que os fieis contritos agradecem ao Todo Poderoso:

Bendito seja o Senhor nosso D'us, Rei do Universo, que nos guiou e permitiu chegar até o dia de hoje.

Lembramos há mais de 3.500 anos que os hebreus foram escravos no Egito dos Faraós, conquistaram sua liberdade e receberam as leis da Torá que os guiaram até aqui.

Portanto, é uma feliz coincidência comemorar na mesma semana a Páscoa do Cristianismo, a Páscoa Judaica e os 47 anos do Monumento, com um Culto Ecumênico reunindo preletores das mais diversas denominações, sob a égide da união e da tolerância, nesta terra abençoada que realiza a virtude suprema almejada pelas pessoas de bem, unir todas as raças, todos os credos.

A sensação espiritual que experimentamos agora aqui neste ambiente é das mais profundas, eis que tudo aqui é carregado de profundos significados, as paredes impregnadas de um forte simbolismo, uma dimensão quase mística.

Fechando os olhos por um momento, podemos pálidamente imaginar como foi a luta dos heróicos pracinhas que aqui repousam, quando repudiando a intolerância, o racismo e o preconceito, o Brasil mandou 25 mil de seus melhores soldados para defender de armas na mão o direito universal de todos viverem em paz e liberdade.

O Rabino espanhol Moisés ben Maimon, que era médico, conhecido como Rambam ou Maimonides, nascido em Cordova há 800 anos na vespera de Pessach, ensinou que a vida de cada um de nós é aferida sobre uma balança, cujos pratos se inclinam pelas boas ações ou pelas transgressões que praticamos.

Aqui estamos diante da ultima morada de 425 heróis, para os quais a balança da vida pendeu para o lado positivo, pela bravura traduzida no sacrifício da própria vida, e assim foram julgados pelo Santificado.

Que D'us transforme os seus dias de luto em dias de alegria, que suas almas sejam iluminadas, pela melhor homenagem que lhes podemos prestar, mantendo viva a sua memória de lutas, pelo Brasil e pela Liberdade Universal.

E assim arde para sempre a Chama Eterna, que se revela acima de nós neste monumento, como se fora o fogo no Altar do Tabernáculo, pois D'us falou a Moisés no Deserto do Sinai, instruindo-o para que a chama queimasse permanentemente.

O capital simbólico deste monumento é por demais relevante. A memória de lutas dos que aqui repousam nos reforça a esperança de que um mundo melhor é possível, diante da grandeza humana de bravos soldados que não mediram sacrifícios na luta que travaram, em terras geladas e distantes, simbolizando a vitória dos melhores ideais da Humanidade.

Hoje, no segundo dia da Páscoa Judaica, agradecemos ao Senhor pela liberdade pois nos tirou do Egito, e contritos reverenciamos também a luta dos nossos pracinhas. Lembramos também aqueles outros heróis que sequer tiveram um túmulo, os combatentes do Levante do Gueto de Varsóvia, que na véspera do Pessach de 1943 enfrentaram a máquina de guerra nazista. Brasileiros e poloneses lutaram pelos mesmos ideais de democracia e liberdade, contra o mesmo inimigo, e aqui neste Monumento serão lembrados no próximo dia 15 de abril.

Nossos sábios nos ensinam que em toda geração, e a cada dia, devemos nos ver como se tivéssemos acabado de ser libertados do Egito. Por que a liberdade não se atinge de uma vez por todas, mas requer constante vigilância. Cada dia, cada ambiente, encerra seu próprio Egito.

Como ontem, quando lutaram os pracinhas, hoje também devemos ter em mente: devemos sair do Egito todos os dias.

Segundo antiga tradição o Profeta Elias, proclamador da redenção, visita os lares durante o jantar de Pessach, com uma mensagem de fé, esperança, paz e harmonia. Por isso colocamos um cálice de vinho adicional para o Profeta. Ao final abrimos simbolicamente a porta de casa para recebê-lo.

Como qualquer religião, o judaísmo preconiza a solidariedade humana. Por isso nossa porta está aberta, seja para o Profeta, para o vizinho, para o forasteiro viajante, para um pobre que pede um pouco de comida.

Assim, estendemos para todos neste Culto uma mensagem final de esperança, que este ano venha o profeta Elias, e que nos traga o anuncio da paz entre todos os povos, a redenção da Humanidade.

Amem

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