Diário de Notícias - Lisboa - 19-mar-2007 (em português de Portugal)
Até aos três meses, Cecilia Nealon-Shapiro chamou-se Fu Qian. A adolescente nova-iorquina é uma das mais de 60 mil crianças chinesas adoptadas por famílias judias americanas quando Pequim abriu as portas à adopção internacional, nos anos 90. Agora, aos 13 anos, prepara-se para fazer o bat mitzvah, o ritual judaico de passagem à idade adulta.
"Ser chinesa e judia é normal para mim", garantiu Cecilia ao New York Times antes da cerimónia na congregação de Rodeph Sholom, uma sinagoga reformista em West 83rd Street, Nova Iorque. Para a sensação de normalidade de Cecilia, muito contribui o facto de a maioria dos seus amigos chineses serem judeus.
Segundo o Departamento de Estado dos EUA, o número de crianças chinesas adoptadas por judeus americanos atinge as 62 300. As primeiras 1300 chegaram à América entre 1991 e 1994. A estas juntaram-se 17 mil na segunda metade da década de 90 e 44 mil desde então.
Nascida a 29 de Janeiro de 1994, na província chinesa de Jiangxi, Cecilia foi abandonada num orfanato, tal como muitas outras raparigas, devido à política de um filho só. Adoptada por um casal de lésbicas americanas - Mary Nealon e Vivian Shapiro -, foi educada na tradição judaica, a religião de Vivian.
Depois de ouvir repetidamente no iPod a passagem da Tora que terá de recitar no seu bat mitzvah, Cecilia não teve dificuldade em conseguir os elogios do rabi Robert Levine. "Adorei. Tem uma linda voz e um hebraico perfeito", elogiou o rabi. Passado o teste, a jovem estava preparada para a cerimónia. Sentada num trono vermelho, com um vestido preto, Cecilia começou por recitar a Tora, passando depois ao discurso em inglês: "Tal como os judeus foram estrangeiros em terras do Egipto, todos fomos ou seremos estrangeiros em algum momento das nossas vidas."
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