sexta-feira, 6 de abril de 2007

Meu amigo Henry Sobel

Gerald Thomas

Nova Iorque - Quando fico muito tempo afastado daqui (e esse "muito tempo" é relativo) fico sempre feliz em colocar os pés na realidade. Se bem que os motoristas de táxi no Rio têm demonstrado serem uma das categorias mais inteligentes/informadas/desconfiadas a respeito do mundo das que andei conhecendo por aí. O que me levou pro aeroporto me deu uma verdadeira aula sobre a política externa americana no Oriente Médio, em particular, a merdalhada no Iraque.

Mas quero escrever hoje sobre um assunto que nao é nem um pouco agradável e até agora um tanto misterioso para muita gente (pelo menos pra mim): o rabino Henri Sobel.

Amigo meu, grande amigo meu (basta acessar a minha entrevista com ele feita em sua própria casa em São Paulo há anos) na TV UOL ou no meu site www.uol.com.br/geraldthomas e clicar no link de vídeos para ver como somos íntimos.

O que terá acontecido com ele? Sinceramente, não importa. Ai de quem, debaixo de sua manta de "pequenos pecados" nao tenha coisa maior a esconder do que o furto de gravatas. Acho que a gravidade do problema está justamente ai. Prova de que o nosso queridíssimo rabino estava mal medicado e sob o tal efeito paradoxal. O mesmo que já me pegou andando de quatro em corredores de hotel (filmado por câmeras) ou dormindo em cima de pizzas e mamão sem saber como foram parar lá: efeito colateral do "dormonid".

Quem lucra com a difamacão de Sobel? A extrema direita da Sociedade Israelita Paulista e brasileira em geral que sempre o viu como um ser extravagante. O que esses seres nao enxergam é que Sobel deu visibilidade aos judeus no Brasil. E uma visibilidade moderna, ao contrário daquela antiquada, rancorosa como se vê em outros paises, como na Argentina por exemplo.

Sobel foi o cara que enfrentou a ditadura militar brasileira. Foi o cara que conseguiu se integrar a todos os outros cleros (trabalhou com D. Paulo Evaristo Arns nas épocas mais tenebrosas dos porões do Doi Codi). Não teve medo dos fuzis apontados para sua cara e sempre foi "outspoken".

Como os judeus não têm um Papa, ou uma central/matriz como o Vaticano, Henri Sobel é, sem dúvida, o mais famoso e mais corajoso rabino do mundo hoje. Um mero incidente em Palm Beach não pode e não deve colocar em risco tudo o que esse homem construiu (fora e dentro da sociedade judaica). Afinal, esse homem é um pacifista, um filósofo, um humanista, que contribui para a sociedade paulistana. Denegri-lo por causa de um efeito colateral de uma medicação mal administrada seria como destruir anos e anos de "integracao de culturas e cleros" que esse homem tem pregado. Isso sim seria um crime.

Escrevo isso um dia após o radialista americano Don Imus ter sido suspenso por comentários racistas que fez em seu programa a respeito de um time feminino de basquete.

Preservem e glorifiquem Henri Sobel. A história não comecou ontem e nem na semana passada. Estudem o que esse homem fez pelos direitos humanos. Se quiserem, tem gente suficiente no Brasil e no mundo para se meter o pau. Esses sim, continuam impunes.

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