terça-feira, 1 de maio de 2007

Batalhão Suez - Missão Cumprida

Maio: há 40 anos terminou a Missão de Paz do Batalhão Suez, com o retorno prematuro do 20°. e último Contingente, os Capacetes Azuis da ONU.
 
Israel Blajberg (*)
 
Em maio fazem 40 anos que NASSER sem querer (e sem jamais o saber ... ) abriu o caminho para a paz com Israel.
 
Era um mundo diferente ... sem internet, fax ou celular, as noticias eram poucas e demoravam a chegar ...
 
O certo foi que sua postura equivocada e irresponsável determinou uma guerra  que deveria ter sido evitada pelos Capacetes Azuis, com o retorno prematuro do 20°. e último contingente do nosso Batalhão Suez, com seus companheiros de outras nações amigas.
 
Em 1967, o Egito bloqueou o Golfo de Aqaba para a navegacao israelense. Aos 17 de maio Gamal Abdel Nasser exigiu que as forcas da ONU evacuassem o Sinai, logo atendido covardemente pelo Secretario Geral U Thant.
 
Nasser comecou a re-militarização do Sinai, que estava em paz desde 1957, concentrando tropas e blindados na fronteira com Israel.
 
Aos 22 de maio, o Egito fechou o Estreito de Tiran, na altura de Sharm el Sheik, bloqueando o porto israelense de Eilat, violando a lei internacional. Anunciava que iria jogar os judeus ao mar.
 
Israel reagiu e num ataque preventivo aos 5 de junho de 1967, em apenas 3 horas de sucessivas sortidas aéreas destruiu praticamente no solo as forças aereas do Egito e Siria, integrantes da RAU - Republica Arabe Unida.
 
Sem apoio aéreo, Egito, Jordania e Siria foram derrotados na chamada Guerra dos 6 Dias, que entrou para a Historia Militar.
 
Toda a Peninsula do Sinai foi capturada, e mais tarde, depois da Guerra do Yom Kippur de 1973, serviu de trunfo para negiociar a paz com Sadat, que substituira o falecido e derrotado Nasser.
 
Vamos recordar uma entrevista concedida em 30 de maio de 2000, nos estúdios da Rádio Guaíba de Porto Alegre, pelo jornalista gaucho Flávio Alcaraz Gomes :
 
Em 1967 tive a chance de ir ao Vietnam. Tive um convite do governo americano para visitar o Vietnam do Sul. Peguei um avião e fui para a Europa.
 
Em Roma vi as manchetes dos jornais que diziam que o presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser tinha decretado o bloqueio do Golfo de Acaba, o que significaria a asfixia de Israel. Deduzimos que a guerra seria iminente. Naquela ocasião se encontrava na faixa de Gaza, numa zona mantida pela ONU, uma tropa de 500 soldados oriundos do Rio Grande do Sul, os "boinas azuis"
 
Eu pensei, a notícia está lá, a minha guerra está errada. Desviei o meu roteiro. Consegui em Roma um visto e me desloquei ao Cairo. Ali trabalhei muito, mandando, no mínimo 3 matérias para o Correio do Povo e Folha da Tarde mais boletins para a Rádio Guaíba. Fui muito prestigiado pela Associated Press com quem eu sempre trabalhei, a grande agência de notícia norte-americana.
 
Fui um dos poucos jornalistas que teve perguntas respondidas pelo presidente do Egito, numa entrevista coletiva da qual participaram 350. Dos 350 cada um fez 3 perguntas. Das mais de mil perguntas foram selecionadas 30 . Destas, duas foram minhas. O serviço era em inglês e submetido à censura/ Não notei ânimo bélico entre os egípcios e resolvi mudar de geografia.
 
Mandei um telegrama cifrado para o Correio do Povo dizendo : "Sigo Bom Fim" que foi interpretado aqui como "sigo para Israel", pois o Bom Fim, aqui em Porto Alegre, é o bairro de predominância israelita.
 
Peguei um avião até Atenas, fiz a triangulação e desembarquei em Tel Aviv. Aí vi que o povo estava em armas. Imediatamente me credenciei e já no dia seguinte fui para o front de Golan, contratando um fotógrafo que me bateu duas fotografias. Mandei-as via radiofoto.
 
Antes, no Cairo, tinha entrevistado o major Breno Vignolli que era gaúcho e tinha sido meu companheiro de moleque na rua Ernesto Alves. Ele era filho de um ex-chefe de polícia do RS, Darci Vignolli e fiz uma foto com ele. Mandei uma radiofoto que custo 150 dólares, era uma fortuna. Foi a primeira divulgada na imprensa do Ri Grande do Sul e uma das primeiras do país. Em Israel fiz fotos junto com os soldados no front de guerra e mandei para o Correio. Elas chegaram aqui na véspera do dia em que a guerra começou, junho de 1967.
 
Todo o mundo dizia que Israel seria varrido da terra. Eu, tendo servido no Exército como voluntário e conhecendo exércitos. Tendo observado os dois (exércitos), israelense e egípcio, ousei mandar dizer que "a guerra vai sair e Israel irá vencê-la em operação relâmpago". Foi a manchete da Folha da Tarde que me rendeu vários prêmios de jornalismo. Foi o que aconteceu.
 
No primeiro dia da guerra, uma multidao se reuniu na porta do Consulado de Israel no Rio, uma bonita e antiga mansão pintadad de branco, em frente a Hebraica, onde hoje há uma muralha de edificios.
 
Era uma segunda-feira de noite, os jornais não circulavam nesse dia, as noticias eram escassas e contraditorias, segundo as quais os arabes estariam vencendo e teriam derrubado centenas de aviões de Israel.
 
Já era de madrugada em Israel, até que finalmente veio o alivio, era tudo mentira !!!
 
O Consul saiu de repente para fora e deu ao pessoal na rua as noticias reconfortadoras de que os arabes ja nao tinham mais força aerea, e as Forças de Defesa de Israel estavam avançando e tomando a iniciativa.
 
O resto todo mundo já sabe. Os acordos de 1979 trouxeram a paz com o Egito, mas o caminho pela frente ainda iria ser muito dificil.

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